Câmara cria comitê de chuvas para evitar CPI que pode causar estragos na imagem do prefeito

 

 

 

Por Mílton Jung

Enchentes não tiram férias no verão de São Paulo (reprodução TV Globo)

                        Enchentes não tiram férias no verão de São Paulo (reprodução TV Globo)

 

 

Os estragos provocados pela chuva na cidade de São Paulo, neste verão que se aproxima do fim, também atingiu a imagem do prefeito Bruno Covas. Ele cometeu o mesmo erro da maioria dos seus antecessores: acreditar que prefeito tem direito a férias, especialmente no período dos temporais. Lamento dizer: não tem. E reforço: especialmente no período dos temporais. Nada contra férias. O caro e raro leitor deste blog sabe que adoro aproveitar as minhas. Mas o prefeito tem de estar sempre em alerta. E repito: especialmente no período dos temporais.

 

Covas justificou ao retornar às pressas para o Brasil que as desgraças são imprevisíveis e podem acontecer a qualquer mês. Deu o exemplo do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em maio do ano passado, no Centro de São Paulo. Prédios não têm hora para cair, por isso pode-se justificar que o prefeito não estava lá embaixo a espera do estrago. Agora, temporal? Todo paulistano sabe que vai acontecer nas chuvas de verão.  Dito isso, fica a lição: ano que vem Bruno Covas vai descansar mas em data fora do verão brasileiro.

 

De volta à reputação do prefeito. 

 

Já que ele, sempre preocupado com a preservação da sua imagem, desta vez se descuidou, seus apoiadores na Câmara Municipal de São Paulo correram para segurar a onda —- de denúncias. Diante da possibilidade de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, pedida pelo vereador Adílson Amadeu do PTB, o presidente da Casa Eduardo Tuma PSDB convenceu seus pares —- e o próprio Amadeu —- que era melhor esquecer esta história. Deve ter se lembrado de um velho ditado da política que diz que CPI a gente sabe como começa mas nunca sabe como termina.

 

Conforme reportagem que ouvi ainda hoje na CBN, Tuma conseguiu transformar a CPI em um inédito Comitê Extraordinário da Chuva. A primeira reunião oficial do Comitê está marcada para semana que vem. Antes, os partidos indicarão os vereadores que vão trabalhar no comitê e, em seguida, serão eleitos o presidente e o relator do colegiado que se propõe a analisar as ações tomadas pela prefeitura e debater política públicas que reduzam os efeitos das chuvas. Se conseguirão alcançar essa meta, vai depender da cobrança do cidadão e do interesse dos vereadores. Agora, o primeiro objetivo já foi alcançado: reduzir o impacto que uma CPI teria na imagem do prefeito Bruno Covas. 

 

A propósito, na primeira manifestação sobre o Comitê, ocorrida durante audiência pública promovida pela Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Juventude, a presidente da comissão, a vereadora Soninha do PPS, apresentou levantamento da prefeitura com informações sobre as principais ações realizadas preventivamente para combater os efeitos dos temporais.

 

O vereador Adílson Amadeu rebateu os dados dizendo que a estrutura descrita no texto não condizia com a realidade, porque, segundo ele, sabe-se que, por exemplo, não existem caminhões nem sugadores para atender os chamados da população. E completou:  “O nosso comitê não pode ser menosprezado”.

 

 

Lamento, vereador Adílson Amadeu, quando o senhor e seus colegas aceitaram transformar uma CPI em um mero comitê, as enchentes estavam sendo menosprezadas pela própria Câmara Municipal de São Paulo.