Após 30 anos, Wadih Mutran vai deixar Câmara de SP
Matéria publicada originalmente no Blog do Diego Zanchetta
Cabisbaixo e abatido, o vereador Wadih Mutran (PP), de 78 anos, entrou hoje na sessão da Câmara Municipal e logo foi consolado por outros colegas parlamentares. Com as mudanças feitas hoje em seu secretariado, o prefeito Fernando Haddad (PT) acabou com as possibilidades de Mutran, no Legislativo paulistano desde 1984, seguir como suplente na coligação PT-PSB.
Vereador mais antigo da Casa, Mutran é um dos símbolos do malufismo e da política clientelista que ainda vigora em bairros antigos de classe média da capital paulista. Com 27.429 votos obtidos na eleição de 2012, ele ficou em 56º lugar e se tornou primeiro suplente. Mas, com a volta ao Legislativo de Eliseu Gabriel (PSB), atualmente secretário de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, prevista para março, Mutran terá de deixar o Palácio Anchieta. Gabriel vai ser candidato a deputado federal nas eleições de outubro.
Como Haddad não escolheu nenhum vereador para os cargos de secretários do Verde e de Coordenação das Subprefeituras, não haverá mais a suplência para o aliado do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) ocupar. Alguns petistas tentaram salvar Mutran, como o líder de bancada Alfredinho (PT), que queria a nomeação do vereador Reis (PT) para alguma das duas pastas. Mas Haddad optou por Ricardo Teixeira (PV) na Coordenação das Subprefeituras e pelo arquiteto Wanderley Nascimento no Verde e Meio Ambiente.
Segundo relatos de colegas, Mutran está “desolado” e não quer conversar com ninguém. Hoje ele entrou no plenário às 15h41, registrou sua presença e foi cumprimentado de forma discreta por alguns colegas – parecia que o parlamentar recebia condolências pela morte de algum parente. Às 15h45 Mutran deixou o plenário sem atender à imprensa.
Colegas do vereador como Adilson Amadeu (PTB) criticaram a decisão do prefeito, que acabou deixando Mutran de fora da Câmara. “Ele sempre foi um homem leal, de palavra, e isso conta muito”, defendeu Alfredinho (PT).
Durante três décadas, Mutran nunca fez oposição a qualquer governo e se orgulha de dizer isso. Esteve na base governista de todos os últimos prefeitos desde 1986, de Jânio Quadros a Haddad. Defendeu a prefeita Marta Suplicy (PT) entre 2001 e 2004 para no ano seguinte integrar a base do prefeito José Serra (PSDB). Ele mantém reduto eleitoral na Vila Maria, na zona norte, onde mantém 3 ambulâncias que buscam eleitores em casa para ir a hospitais da região. Ele também é famoso por distribuir cadeiras de rodas para deficientes.
Mutran também se orgulha de ter ocupado a Corregedoria da Câmara Municipal por 8 anos, entre 2003 e 2011, e nunca ter aberto nenhum procedimento de investigação contra seus colegas. Entre as funcionárias do Palácio Anchieta, Mutran também tem fama de mulherengo.
SAÍDA DE ORLANDO SILVA (PCdoB)
Quem também deve deixar a Câmara Municipal com as mudanças feitas pelo prefeito é o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva (PCdoB), que terá de deixar a suplência com a volta do vereador Netinho de Paula (PCdoB) – o cantor de pagode, hoje secretário da Igualdade Racial, também vai tentar uma vaga no Congresso como deputado federal.