Câmera do cidadão grava racha do PSDB

Por Milton Jung 

Quem diria ! O olho eletrônico do cidadão detonou a maior crise já enfrentada pelo PSDB, em São Paulo.

Foi a câmera que leva à internet as imagens da reunião das comissões permanentes da Câmara Municipal de São Paulo que gravou o encontro do diretório municipal do partido no qual foram feitas críticas duras aos vereadores.

Estas câmeras foram resultado de pedido de ONGs, como Voto Consciente, e de proposta da rede Adote um Vereador para que os encontros nas comissões pudessem ser assistidos por todos os cidadãos.

O encontro do diretório tucano na Câmara foi comandado por Julio Semeghinni, presidente municipal do partido e secretário de Geraldo Alckmin. Restrito a alguns convidados, o conteúdo estava sendo gravado pelo sistema interno do legislativo e caiu nas mãos do presidente da Casa, José Police Neto (PSDB ou melhor ex-PSDB).

Ele e os demais tucanos incomodados com a interferência da ala Alquimista do PSDB, ouviram expressões que beirava a humilhação e os deixaram indignados.

Entre as frases, partidários de Alckmin atacaram os vereadores que apoiaram a candidatura de Gilberto Kassab na eleição de 2008. “Eles tem de ser tratados a peixeira”, teria dito um dos participantes. A reação agressiva é reflexo ainda da eleição municipal passada quando parte da bancada municipal apoiou Kassab – então no DEM – em detrimento de Geraldo Alckmin – desde sempre no PSDB.

Após assistirem ao vídeo, os sete vereadores kassabistas entenderam que não havia outra saída. Na tarde dessa segunda-feira, anunciaram a debandada do partido, esfacelando uma das principais forças políticas do Estado na maior cidade do País.

Deixaram o PSDB os vereadores José Police Neto, que preside a Câmara Municipal, Dalton Silvano, Juscelino Gadelha, Adolfo Quintas, Souza Santos, Gilberto Natalini e Ricardo Teixeira. Um ou dois podem recuar – aposta-se em Souza Santos e Adolfo Quintas -, a maioria porém vai migrar ou para o PSD de Kassab ou procurar um outro canto para disputar a reeleição ano que vem.

Um dos vereadores mais abatidos com a crise no PSDB é José Police Neto. No partido desde os tempos de Mário Covas, recentemente enfrentou processo desgastante para chegar à presidência da Câmara, encarando o poder do Centrão. Quando imaginava dar início a novo momento no legislativo obriga-se a liderar um dos instantes mais críticos na vida dos tucanos.

O destino dele ainda não está certo, apesar do assédio de Kassab para que se filie ao novo-velho PSD. Poderia até mesmo ser o candidato a prefeitura de São Paulo com o apoio da máquina municipal – o que não é pouca coisa. Police tem ao menos três meses para ver qual o melhor caminho.

Por falar em sucessão municipal, há quem veja o impasse de agora como o empurrão definitivo para que José Serra (PSDB) saia candidato pelo partido, por mais que negue (ele sempre nega). Ele seria a única salvação para os tucanos depois do racha municipal.

Diante de tudo isso, o PT assiste na plateia à espera dos movimentos do PSD de Kassab, em especial, um partido que nasce disposto a qualquer tipo de negociação, com Deus e o Diabo – estejam eles onde estiverem.

O prefeito, por sua vez, sorri sozinho. Ampliará seu apoio na Câmara, mesmo que o PT bata pé dizendo que fará oposição a ele. O ex-Centrão já está com Kassab, o PC do B está com Kassab, os ex- PSDB, também. Enquanto o que restou do PSDB não sabe o que fará direito.

Clique aqui e ouça a reportagem na rádio CBN, por Luiz Motta.