CPI do transporte é para achacar, diz secretário de Haddad

ANDRÉ MONTEIRO
PAULO GAMA
 

O secretário de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, disse ontem que uma CPI na Câmara Municipal para investigar o sistema de transporte da cidade seria usada para achacar empresários.

"Sou totalmente contra, porque CPI, geralmente, quando se instala, é pra ficar achacando o setor, não é pra resolver, tirar dúvidas", disse Tatto, que é deputado federal licenciado pelo PT.

Há hoje na Casa dois pedidos de investigação sobre a área -um proposto por Ricardo Young (PPS) na última semana e outro de Paulo Frange (PTB), do início do ano.

Tatto afirmou ainda que não vê necessidade de uma CPI, pois, segundo ele, todas as informações do setor são enviadas à Câmara e a outros órgãos, como o Ministério Público. "Não tem caixa preta."

Para o secretário, é importante que a sociedade aproveite as manifestações pela redução das tarifas para debater a organização do sistema e até a lucratividade dos empresários, mas a criação de uma comissão iria "desviar o foco de como melhorar o sistema de transporte".

A Presidência da Câmara, comandada por José Américo (PT), rebateu a declaração do secretário do prefeito Fernando Haddad, também petista. Em nota, afirmou que as CPIs propostas estão fundamentadas em "princípios estritamente republicanos de transparência e zelo pelos recursos públicos". "Nenhuma comissão é criada com a intenção de prejudicar qualquer setor da sociedade."

Haddad já teve atritos com a bancada do PT na Câmara, após vetar, em maio, projetos de lei de vereadores da sigla.
Petistas procurados ontem pela Folha não quiseram comentar a fala de Tatto. A presidente municipal do partido, vereadora Juliana Cardoso, disse que precisava "ver o contexto" antes de falar.

Integrantes da oposição reagiram à fala de Tatto. Young insinuou que o petista atua a favor dos empresários do setor e quer convocá-lo para explicar a declaração, caso a CPI seja instalada.

"Não entendo o secretário dizer um absurdo desses. Ele está do lado de quem? Ele tem lado?", questionou. "Ele terá de se explicar."

Floriano Pesaro, líder do PSDB, ironizou a fala do petista. "Só posso lamentar que o secretário tenha essa visão de uma CPI, não sei se por experiência própria", afirmou.

O pedido de CPI protocolado por Young recebeu apoio de 23 vereadores, entre eles cinco petistas. Ele buscará hoje entendimento entre os líderes dos partidos na Câmara para que seja votada em plenário a criação de uma CPI em caráter excepcional -para isso são necessários votos de 28 dos 55 vereadores.

Líder do PT na Casa, o vereador Alfredinho diz que a assinatura de petistas no requerimento não significa que o partido votará pela abertura da investigação. Segundo ele, a Câmara precisa ter "cuidado" com CPIs criadas apenas com "intenção política".

Matéria publicada originalmente na FOLHA DE S.PAULO