Vereadores de SP gastam com combustível R$ 1,5 milhão em 4 anos
Gasto durante legislatura daria para 191 voltas ao mundo em carro popular.
G1 calculou gastos totais e com abastecimento de carros de parlamentares.
Márcio Pinho Do G1 São Paulo
Vereadores gastaram R$ 1,5 milhão para colocar combustível no carro (Foto: Márcio Pinho/G1)
Os vereadores que integraram a Câmara Municipal de São Paulo entre 2009 e 2012 gastaram R$ 28,7 milhões de verba destinada às despesas de gabinete. Desse montante, R$ 1,5 milhão foi gasto com combustível, o que permitiria comprar 604 mil litros de gasolina em São Paulo ao longo dos últimos quatro anos. Se o veículo abastecido fosse um Uno Mille, seria possível dar 191 voltas na Terra, segundo estimativas.
Os gastos totais de gabinete de cada vereador e o valor utilizado especificamente com abastecimento foram tabulados pelo G1 a partir de dados publicados no site da Câmara. Pela lei, os vereadores têm direito a R$ 17.285,50 para o custeio de despesas, mas eles só receberam esse dinheiro quando efetivamente comprovaram os gastos com notas fiscais (veja abaixo os que mais gastaram).
Vereador |
Gasto total durante o mandato (em R$) |
---|---|
Noemi Nonato (PSB) | 719.736,77 |
Eliseu Gabriel (PSB) | 710.790,71 |
Toninho Paiva (PR) | 696.635,27 |
Paulo Frange (PTB) | 690.829,91 |
Gilson Barreto (PSDB) | 689.686,20 |
A vereadora Noemi Nonato (PSB) gastou R$ 719,7 mil entre janeiro de 2009 e outubro de 2012 e ficou no topo da lista entre os ocupantes do legislativo municipal. Procurada pelo G1, a vereadora Noemi não se manifestou sobre os gastos. A Câmara é composta por 55 vereadores, mas para compor o ranking de quem gastou mais a equipe de reportagem considerou apenas os 46 vereadores que cumpriram os quatro anos do mandato.
Já no quesito despesa com combustível, Toninho Paiva (PR) foi o primeiro colocado gastando R$ 83,6 mil. Uma divisão pelo número de dias desses quatro anos mostra que o vereador abasteceu R$ 59,74 por dia. Considerando o preço médio da gasolina em R$ 2,61 registrado em dezembro em São Paulo, seria possível percorrer 291 km, quase o mesmo que uma viagem de ida e volta entre São Paulo e Taubaté.
Os números são ainda maiores se descontados os dois meses de recesso que a Câmara costuma ter por ano, além de sábados, domingos e feriados. Nessa situação, Paiva abasteceu R$ 104,43 por "dia útil".
As despesas de Paiva ficaram dentro dos R$ 17,2 mil por mês disponibilizados pela Câmara. Ele se mostrou surpreso ao saber que acumulou o maior gasto com combustível entre os vereadores. "Não teve gente que gastou mais do que eu?", questionou.
"Vou tentar ver depois isso daí, então o motorista está me embrulhando? (...) Precisa ver quantos quilômetros ele rodou", disse. Paiva afirma que visita com frequência bairros da periferia e que trabalha também aos finais de semana. Apesar de afirmar que iria rever os dados com combustível, ele ressaltou que os gastos estão dentro do limite impostos pela Câmara.
Vereador |
Gasto durante mandato com combustível (em R$) |
---|---|
Toninho Paiva (PR) | 83.649,86 |
Agnaldo Timóteo (PR) | 59.222,41 |
Juliana Cardoso (PT) | 51.107,98 |
Zelão (PT) | 46.479,13 |
Cláudio Prado (PDT) | 43.905,93 |
Atrás de Paiva aparece outro vereador do PR, Agnaldo Timóteo, que gastou R$ 59,2 mil. Isso representou R$ 42,30 por dia. Timóteo não se manifestou sobre os custos. Ele não foi reeleito.
Em terceiro lugar ficou a vereadora Juliana Cardoso, do PT, com R$ 36,50 por dia, ou R$ 63,80, se retirados da conta meses de recesso, finais de semana e feriados. Sua assessoria afirmou que Juliana trabalha também aos finais de semana junto a comunidades no extremo leste, bairro da região sul e noroeste e que visita unidades de saúde como representante da Comissão de Saúde.
Não tiveram gasto com combustível os vereadores José Police Neto (PSD), que costuma ir à Câmara de bicicleta, Carlos Apolinário (PMDB), Celso Jatene (PTB) e Juscelino (PSB). Curiosamente, este último foi tema de polêmica envolvendo um funcionário seu que era registrado como garagista. Seu salário de R$ 23 mil chamou a atenção logo após a Câmara divulgar os vencimentos dos funcionários em seu site, em 2011. Os dados foram corrigidos, e o funcionário passou a ser considerado assessor parlamentar com salário de R$ 7,2 mil.
Gasto total
Se o PR ocupou os dois primeiros lugares do ranking no quesito combustível, o PSB também ocupou os dois primeiros postos se considerados os gastos totais (além de combustível, correios, telefone etc). Atrás da vereadora Noemi Nonato ficou Eliseu Gabriel, que gastou R$ 710,7 mil ao longo do mandato.
O vereador Eliseu Gabriel disse que ficou dentro do limite de gastos mensais de R$ 17,2 mil. Ele afirmou por meio de sua assessoria que fez um mandato político "transparente" e que promoveu discussões na Câmara sobre temas ligados à educação, o que exigiu a confecção de material para esclarecimento. Tanto Eliseu como Noemi foram reeleitos.
O vereador Carlos Apolinário (PMDB) foi o que menos gastou. Sua despesa foi de R$ 49,6 mil ao longo do mandato.
Além da verba para custos de gabinete, de R$ 17,2 mil, cada vereador dispõe de uma verba para o pagamento mensal pela mão-de-obra dos seus 18 assistentes parlamentares, que hoje é de R$ 106.452,03. O salário do vereador é de R$ 9.288 e vai subir para R$ 15.031,77 em janeiro de 2013.
Juntando todos os gastos, a legislatura de 2009 a 2012 gastou R$ 1,1 bilhão, mais do que a legislatura anterior (2005-2008), cujas despesas chegaram a R$ 798 milhões. Segundo a Câmara, um concurso foi realizado em 2008 e, até maio de 2012, foram contratados 262 novos funcionários de nível médio e superior, o que ajuda a explicar o aumento nos gastos.
Metodologia
Para calcular quanto o dinheiro gasto pelos vereadores se traduz em quilômetros rodados, o G1 considerou diversos índices. O Uno Mille usado na comparação faz 12,7 km por litro na cidade segundo tabela do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia).
O rendimento considerado foi o do veículo na cidade, e não na estrada, já que o vereador normalmente se desloca nos limites do município. O valor da gasolina utilizado, R$ 2,61 por litro, foi o preço médio apontado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para a segunda semana de dezembro na cidade de São Paulo. Já a circunferência da Terra possui 40.075 km, segundo especialistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Matéria publicada originalmente no Portal G1 SP