Mais dois vereadores estariam envolvidos com quadrilha do ISS

Testemunha diz que Nelo Rodolfo (PMDB) e Paulo Fiorilo (PT) receberam dinheiro para favorecer integrantes da quadrilha

Arthur Rodrigues, Bruno Ribeiro, Diego Zanchetta e Fabio Leite - O Estado de S.Paulo

Depoimento de uma testemunha protegida pelo Ministério Público Estadual (MPE) inclui outros dois vereadores paulistanos na lista de políticos que teriam recebido dinheiro da quadrilha de auditores fiscais de São Paulo para suas campanhas eleitorais no ano passado. São eles: Paulo Fiorilo (PT) e Nelo Rodolfo (PMDB), ambos da base do prefeito Fernando Haddad (PT) na Câmara Municipal.

Segundo o depoimento, ao qual o Estado teve acesso, o auditor fiscal Ronilson Rodrigues teria financiado as campanhas do petista e do peemedebista, sem citar valores. Rodrigues é apontado como chefe da quadrilha acusada de desviar até R$ 500 milhões, cobrando propina para reduzir o Imposto sobre Serviços (ISS) de obras na capital paulista. Antonio Donato (PT) e Aurélio Miguel (PR) também teriam recebido dinheiro do grupo.

Gravações obtidas pelo MPE já mostravam que Fiorilo havia sido procurado por Rodrigues neste ano, quando soube que estava sendo investigado pela Controladoria-Geral do Município por enriquecimento ilícito. Fiorilo admitiu ter se encontrado com Rodrigues, ex-subsecretário da Receita na Câmara, mas negou ter ajudado o acusado ou recebido dinheiro.

Ainda de acordo com a testemunha, o auditor fiscal Fábio Camargo Remesso disse ter se tornado chefe de gabinete da Secretaria de Assistência Social neste ano por indicação de Nelo Rodolfo, porque havia financiado a campanha do peemedebista. A pasta é comandada por Luciana Temer, filha do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB).

Apontado como intermediário do esquema que fraudava ISS, Remesso foi nomeado em junho como assessor técnico do secretário de Relações Governamentais, João Antonio (PT), também por indicação de Nelo Rodolfo. Ele foi exonerado no início deste mês, após ter seu nome citado entre os suspeitos, conforme o Estado revelou.

À época, Nelo Rodolfo negou qualquer envolvimento com a quadrilha. Disse ser amigo de Remesso, mas exonerou dois parentes do auditor fiscal que estavam empregados em seu gabinete na Câmara Municipal para afastar quaisquer suspeitas sobre o seu mandato.

Primeiros. Ao MPE, a testemunha disse ainda que Eduardo Barcellos, outro auditor fiscal acusado de integrar a quadrilha, "salvo engano", também doou dinheiro para a campanha de Paulo Fiorilo, que foi eleito presidente municipal do PT no último fim de semana.

Foi Barcellos quem, em depoimento na terça-feira, disse ter dado dinheiro ao vereador Antonio Donato (PT) durante a campanha eleitoral. Segundo o fiscal, foram pagamentos mensais de R$ 20 mil, entre dezembro de 2011 e setembro de 2012, feitos a pedido do petista.

A acusação ocorreu no mesmo dia em que Donato pediu demissão do cargo de secretário de Governo, braço direito de Fernando Haddad na Prefeitura. Ex-presidente municipal do PT e coordenador da campanha do prefeito, Donato negou as acusações e disse que retomaria seu mandato na Câmara Municipal para se defender.

Além de Barcellos, uma testemunha protegida pelo MPE e Vanessa Alcântara, ex-namorada do auditor Luis Alexandre Cardoso Magalhães, delator do esquema, já haviam afirmado que Donato tinha recebido dinheiro da quadrilha, até mesmo de Ronilson Rodrigues, conforme o Estado revelou.

Donato já havia se encontrado com Rodrigues na pré-campanha de Haddad, em maio de 2012, e, no início da gestão, indicou o auditor para ser diretor administrativo da São Paulo Transporte (SPTrans). Barcellos também teria trabalhado em seu gabinete na Prefeitura por três meses neste ano.

No mesmo depoimento ao MPE, Barcellos disse que o vereador Aurélio Miguel (PR) também recebeu dinheiro de Rodrigues para a campanha, sem citar valores. O parlamentar negou a acusação e disse que nos últimos quatro anos encaminhou uma série de representações para que o MPE e a Prefeitura de São Paulo apurassem indícios de fraudes em arrecadação de impostos nas Secretarias de Habitação e Finanças.

Tanto Aurélio quanto Donato alegam que as acusações dos fiscais são "orquestradas" para "tirar o foco" de um esquema de corrupção que ocorreu na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). O vereador do PR afirmou que seus sigilos fiscal e bancário já foram abertos ao MPE em 2012, e Donato disse que está colaborando com as investigações. Ele é alvo de uma sindicância da Prefeitura e já prestou depoimento à Controladoria-Geral do Município. 

Matéria publicada originalmente pelo Estadão.com.br