O Adote Um Vereador entrevistou o vereador Quito Formiga (PSDB)

 
Por Gabriela Cabral - Integrante do Adote Um Vereador
 
Neste mês de Abril o vereador Quito Formiga recebeu, em seu gabinete, o Adote Um Vereador. Confira a entrevista abaixo:
 
AUV (Adote Um Vereador) – Vereador, por que você quis ser político, qual é a sua trajetória política? E por que, especificamente, você quis ser vereador?
 
QF (Quito Formiga) – Na verdade eu nunca imaginei que seria vereador ou que minha vida estivesse ligada a política. Eu trabalhava na iniciativa privada e faço parte de um trabalho social que é de uma instituição, de todo um segmento da sociedade, um segmento religioso, meu módulo é a religião na Câmara e diante de algumas dificuldades que nós enfrentávamos lá, para conseguir algumas necessidades nossas surgiu à ideia, diante de tantos convites que eu tive, de tentar fazer um trabalho político que facilitasse para a minha instituição e para as outras instituições do mesmo segmento.
Mas era uma coisa que eu achava, até por não conhecer política na ocasião, em 2002, que daria para conciliar a atividade privada com a atividade pública, na verdade acabei tendo que me dedicar integralmente ao mandato de vereador.
 
AUV – Você não tem nenhuma ligação familiar, nenhum parente foi político?
 
QF - Não tenho. Meu pai foi funcionário público, praticamente a vida toda, ele tinha um cargo que ele transitava no meio político, mas nunca desejou isto para a vida dele.
 
AUV – Quais são os seus principais Projetos de Leis (PLs), que se tornaram leis?

QF - O que eu mais tenho orgulho de ter feito diz respeito à religião, mas eu tenho projetos aprovados nas áreas da saúde e educação.
O projeto que eu me refiro, eu quis criar um dia – simplesmente para fazer uma homenagem – e eu não sabia que há mais de 40 anos as pessoas esperavam isto e não conseguiam, que foi o dia da umbanda e do umbandista na cidade de São Paulo, que é comemorado anualmente a semana da umbanda e do umbandista. Eles fazem eventos na semana inteira e era uma simples data, isto para mim, tem uma representação muito positiva porque eu vi que eu mexi com toda a nação umbandista.
Eu tenho um projeto, também interessante, que padroniza os uniformes escolares na rede de ensino municipal e o outro projeto determina que onde houver concurso público é necessário que haja uma ambulância. E vários outros projetos que se tornaram leis e saíram de projetos nossos.  
 
AUV – Neste mandato, qual será o foco da sua atuação, em quais áreas temáticas e em quais regiões da cidade?

QF – Nós não temos uma região específica, por que eu não sou um vereador de região, eu tenho voto em toda cidade, poucos votos em cada zona eleitoral, então eu acabo sendo um vereador temático.
O meu foco do mandato é sempre o mesmo, a área social, a saúde, a educação e onde a gente puder ser útil com propostas e projetos de leis interessantes. Nós estamos procurando trabalhar agora [neste mandato] com a assessoria da Karina, que é nossa assessora de imprensa, que tem feito um excelente trabalho, ela tem nos conduzido com os projetos que temos para nos direcionar e dizer onde é mais interessante focarmos.
 
AUV – Quais critérios V. Exa. utilizou para a escolha dos funcionários do gabinete? Eles estão relacionados à área em que você pretende atuar?

QF - De certo modo sim. Nós temos dois assistentes sociais no gabinete e o critério maior tem sido a experiência no trabalho político, na área pública. É o caso de pessoas que já vêm com uma visão, com trabalhos que já realizaram com outros parlamentares, pessoas que tem experiência em todos os departamentos da Prefeitura.
 
AUV – V. Exa. apoia o projeto Revogaço, do vereador Fernando Holiday, que visa revogar as leis desnecessárias, inúteis e obsoletas?

QF - Depende. Eu procuro respeitar os projetos de todas as pessoas, como espero que todos os outros parlamentares respeitem os meus projetos e as leis criadas.
Se o vereador Fernando Holiday pedir a minha ajuda pra isso, eu vou ser claro com ele, em algumas coisas sim, em outras não. Mas eu estou aqui para colaborar também, é assim que a gente trabalha aqui, se você não colabora com os outros vereadores você não consegue fazer nada, um depende do outro.
 
AVU – Este projeto Revogaço inclui revogar, principalmente, leis que criam datas comemorativas e foi verificado que dentre os seus PLs aprovados, praticamente a metade dispõe de criação de data. Qual seria a importância da criação destes projetos de leis, já que são considerados projetos de baixo impacto na sociedade?

QF – Eu vou te explicar porque estes projetos em massa. Eu não procuro elaborar um projeto de lei com interesse político apenas.
Nós fizemos um evento aqui [Câmara] que promoveu o debate de enfrentamento à intolerância religiosa. Foi um projeto com a presença de vários representantes de todas as religiões. Foi um projeto de lei que é de data, instituindo no calendário oficial do município a semana inter-religiosa e nós mesmos estamos divulgando isto, procurando colocar o conceito de que nós estamos aqui para sermos um representante da cultura de paz. Então isto foi uma sugestão que eu recebi e que achei bem interessante.
Os outros projetos de leis de datas, também foram projetos que chegaram ao gabinete por meio de sugestões [de certas categorias, ongs e classes] e nós atendemos estas sugestões.
 
AUV – Segundo informações do site da Câmara, em 2016 o Sr. foi um dos vereadores que mais gastou com o auxílio de encargos gerais. Você pretende reduzir os custos do gabinete neste mandato?

QF – Nós procuramos não utilizar os recursos sem necessidade. Como eu sou um vereador que preciso mostrar o meu trabalho através de ações que nós tomamos, nós utilizamos muita gráfica e isto é um fator que pesa muito na prestação de contas. Trata-se de materiais gráficos como folders para divulgar o nosso trabalho, então é por conta disso que deu um excesso na verba que temos.
 
AUV – Sabendo-se da crise de representatividade, quais são as formas que V. Exa. utiliza para interagir com a população? Como você faz a prestação de contas do mandato?

QF – No ano passado, na última legislatura, nós tínhamos um jornal onde mostrávamos um panorama geral, colocávamos todas as nossas ações, os projetos, o desempenho nas atuações parlamentares na Casa, como a presidência da CPI do Theatro Municipal, as comissões, o plenário, as tramitações dos projetos. Era um jornalzinho que entregávamos dentro do segmento que eu atuo. Essa era a forma de comunicação que nós vinhamos utilizando na última legislatura, que deu a questão da verba.
Com a chegada da Karina [assessora de imprensa], veio à ideia de fortalecer as redes sociais e nós estamos desenvolvendo um trabalho nas redes sociais, estamos aprendendo a trabalhar com esta ferramenta.
 
AUV – Quais são as formas que a população paulistana dispõe para fiscalizar a atuação dos vereadores?

QF – Eu acho que isto que você está fazendo hoje é uma excelente forma de fiscalizar, adotando um vereador e seguindo os trabalhos que nós já desenvolvemos e que vamos desenvolver.
A população deveria acompanhar mais de perto a Câmara, o trabalho dos vereadores e não só deixar a cargo do que escuta falar através de matérias que são publicadas por jornalistas, por que os jornalistas, na maioria das vezes, distorcem muito o que a gente faz aqui.
Tem muitos jornalistas que publicam a notícia de que o plenário está vazio, de que o vereador não está na casa. Daqui a pouco vai abrir a sessão plenária, se nós ainda estivermos nesta entrevista, eu não vou parar a entrevista para descer para o plenário, eu vou esperar acabar a entrevista e vou atender a pessoa que está me esperando. Pois o plenário começa com os discursos, só depois que eu vou descer para poder participar das sessões ordinárias, que é onde têm as discussões de projetos, as votações. Nesse meio tempo, se tiver jornalista lá, vai pegar o plenário vazio, ou pelo menos com os 19 vereadores que desceram para marcar presença e dar o quórum para poder abrir a sessão.
Por exemplo, a audiência pública é uma ferramenta da Câmara em que as pessoas que tem interesse por este ou aquele motivo, vêm aqui para participar da audiência pública. O vereador, pelo regimento da Casa, não é obrigado a participar de reunião de audiência pública, ele é obrigado a participar das comissões permanentes, da sessão plenária, mas da audiência pública ele não é obrigado a participar, só o vereador que vai presidir a audiência pública é que tem a obrigatoriedade da presença.
Eu não sou obrigado a participar de todas as audiências públicas e uma vez saiu à notícia no programa CQC, de que o vereador Quito Formiga não participava de audiência pública. Na cabeça das pessoas a notícia é de que o vereador Quito Formiga não participa do plenário, por exemplo, não vota.
Então, eu acho que deveria haver por parte da imprensa que acompanha a Câmara diariamente um esclarecimento do que é a Câmara Municipal, de como funciona a Câmara Municipal e levar ao conhecimento da população, para que a população não escute essa ou aquela notícia e tenha uma interpretação errônea da postura do vereador.
Portanto, o nosso país está longe de ter um povo politizado, como é o povo americano, como é o povo muitas vezes na Europa. O brasileiro não tem noção de política e discute política como discute uma Copa do Mundo, um time de futebol, infelizmente. Tem um amigo meu que já votou em mim nas cinco eleições em que eu participei e quando me vê, acha que eu sou deputado, eu sempre fui vereador e ele fala “o deputado”, não entende o que é um deputado e o que é um vereador.
 
AUV – Como você avalia a participação da população na vida política da cidade? Existe uma cobrança em relação a sua atuação parlamentar?

QF - Sempre existe cobrança. Eu acho que de quando comecei – eu sou novo na política, cheguei aqui em 2005 e estou até hoje, de uma forma ou de outra, batendo na trave, eu estou sempre tendo a oportunidade de dar continuidade ao meu trabalho – eu vejo hoje muito diferente de 2005.
Certa vez fui reconhecido no supermercado, por uma pessoa que não é da minha base eleitoral,  por um trabalho que eu fiz, isto é o mais gratificante.
Hoje a gente nota que as pessoas tem uma necessidade de entender um pouco melhor de política, até para votarem diferente, mas isso ainda é um percentual muito pequeno, essa conscientização deveria ser muito maior.
 
AUV – Em relação a CPI do Theatro Municipal, na qual você foi o presidente, como foi a condução dos trabalhos, houve alguma pressão da base governista? Qual foi a conclusão da CPI? 

QF - A CPI foi bastante tumultuada. Tinham sessões que começavam com muita tranquilidade e tinha sessões que já começavam muito tensas.
Não foi uma CPI fácil de conduzir, nós sofremos muitas intervenções do governo anterior, que era do PT, para que esta ou aquela informação que chegava até nós não fosse além, porque eram fatos comprovados, tínhamos prova de tudo e ia de encontro com a idoneidade do governo do prefeito Fernando Haddad, pois tinha o secretário de comunicação, não era nem o secretário da cultura, que seria a matéria mais interessada no assunto já que o Theatro Municipal era o equipamento.
Foi o secretário de comunicação que indicou o maestro, que morava na Suíça e ganhava R$ 150 mil de salário e vinha para o Brasil e ficava um mês e agenciava a pessoa que fazia os contratos com artistas internacionais e levava os contratos do Theatro Municipal, que era gerido por uma OS. A pessoa que denunciou o esquema era o diretor do Theatro e nós fomos atrás de tudo o que ele falava e conseguíamos as provas, então o governo lutou contra, para que a CPI não tivesse o seu andamento natural.
Eu fui ameaçado no final, por que nós não aprovamos o relatório do relator, que era do vereador do PT e eu e os vereadores Ricardo Nunes e Salomão fizemos outro relatório à parte e aprovamos este relatório, onde indiciamos criminalmente todas as pessoas envolvidas, inclusive o tal secretário, porém o prefeito não foi indiciado, pois não tínhamos prova contra ele. Logo depois do encerramento da CPI, o Ministério Público indiciou o prefeito criminalmente. Não foi uma CPI que acabou em pizza e ela foi bem divulgada pela imprensa e está tendo na Justiça a sua continuidade.
 
AUV – Dos seus PLs vetados, o mais antigo data de 2005 e dispõe sobre a obrigatoriedade de banheiros químicos nas feiras livres. Sendo que o veto se deu em 2016, sob a alegação de que se trata de quantidade exagerada a um custo milionário, da complexidade de logística e de que haveria impacto nas metas fiscais. V. Exa. pretende derrubar o veto? Ou tem alguma outra “saída” para a questão, como por exemplo, já conversou com o atual prefeito para obter doações, já que esta é uma prática recorrente desta gestão?
 
QF – Eu conversei com o prefeito João Dória sobre este veto com a intenção de derrubar e de alguma forma o projeto ser reestudado e tentar aprovar este projeto por que é uma preocupação que eu tenho até hoje.
O prefeito João Dória entrará com um projeto na casa [Câmara] que são os banheiros móveis, se trata de um tipo de banheiro que ele está trazendo como novidade, muito mais prático do que aqueles banheiros químicos.
O prefeito João Dória está trazendo uma inovação, já tem um banheiro deste em teste no Centro da cidade e é o que ele quer implementar. Então nosso projeto acaba perdendo a sua função e validade, mas será contemplado neste novo plano do prefeito Dória que eu vou apoiar, como vereador da base governista. Ele está trazendo uma série de inovações para a cidade e esta é uma das inovações que vai atender aquilo que eu queria atender, só que de uma forma ainda mais moderna e simples. 
 
AUV – V. Exa. é membro da Comissão de Administração Pública, qual é a competência da Comissão e qual é sua atuação na mesma?
 
QF – É uma das comissões mais importante da Casa por que tudo que se faz na administração pública, na Prefeitura, qualquer tipo de contrato que a Prefeitura assina, em todas as secretarias e em todas as autarquias do governo, passa por análise dessa comissão, portanto, é uma comissão de suma importância, assim como a Comissão de Constituição e Justiça, a Comissão de Política Urbana e a Comissão de Finanças.
O vereador que é membro desta comissão pode pedir esclarecimento de qualquer contrato e de qualquer área, pode fiscalizar melhor a administração pública. Como é uma comissão na qual eu já participei em anos anteriores e no ano passado fui o presidente, eu pleiteei para que este ano eu continuasse nesta comissão até por que eu já entendo melhor e sei trabalhar bem.
 
AUV – No momento você participa de alguma CPI?
 
QF – Não. Têm duas CPIs acontecendo na casa, a dos maiores devedores do município e a dos imigrantes, como eu não tenho nenhum trabalho voltado a estas áreas eu não quis participar delas.