Prefeito vive ‘lua de mel’ na Câmara

 

Por GILBERTO AMENDOLA

E se o prefeito pegar um resfriado? A última pesquisa Datafolha (publicada em dezembro de 2011), mostra que Kassab está “numa gelada”. Ou seja, cerca de 40% dos eleitores consideram sua administração ruim ou péssima – e 72 % acham que Kassab tem feito menos pela Cidade do que ele poderia fazer. Por outro lado, a despeito da percepção e da opinião do eleitorado, o mesmo Kassab tem gozado do conforto “quentinho” da Câmara Municipal – local onde, segundo o vereador Adilson Amadeu (PTB), “ele consegue aprovar até um saco de batatas”.

Para entender a relação amistosa entre prefeito e Câmara, o JT selecionou 12 projetos do Executivo (votados entre 2009, início do mandato, e 2011) e observou o comportamento dos vereadores – destacando a forma como cada um votou. Desta pequena amostragem, encontramos seleto grupo de 6 parlamentares cuja fidelidade ao prefeito é absoluta, representada aqui por Wadih Mutran (PP). “De zero a dez, eu dou nota 11 para o Kassab. Acho que ele está fazendo um excelente governo – e sempre que o projeto é de interesse do povo, eu voto com ele”.

Já o maior grupo da Casa, formado por 36 vereadores, também atua como base de apoio ao prefeito, mas, vez ou outra, faz pequenas ressalvas, se abstêm ou revela pequenas discordâncias com o Executivo. Um bom representante deste grupo é Marco Aurélio Cunha (PSD): “Nunca recebi pressão para votar a favor de algum projeto do Executivo. Também nunca soube do Kassab fazendo isso. Nós temos uma relação excelente e, por isso, me sinto à vontade até para discordar em alguns temas, como foi o caso do Itaquerão (incentivos fiscais para a construção do estádio do Corinthians na zona leste)”, comenta. Na votação que concedeu aumento de até 236% para os subprefeitos, por exemplo, Cunha não estava presente. “Sou favorável. Não votei porque tinha lançamento de um livro de professor meu do cursinho e acabei perdendo a hora”.

Esse bloco concentra ainda sete vereadores que entraram no lugar de colegas eleitos deputados em 2010 – por isso, não participaram de votações anteriores.

A chamada “oposição” também não é assim tão radical. Atualmente, vereadores que mais “fazem barulho” sequer estão no PT. Entre 2010 e 2011, Aurélio Miguel (PR) e Adilson Amadeu (PTB) assumiram esse papel de radicalizar com o governo. Dos 12 projetos analisados, votaram no máximo 5 vezes com o governo – sendo que 4 dos votos favoráveis foram em 2009 (no início do segundo mandato do Kassab, logo após sua eleição).

‘Patinho feio’
“O correto seria a independência dos poderes. Mas, no mundo, essa independência não existe. Acho que passamos do ponto. Do jeito que está, o Executivo envia um projeto e a Casa não tem força para mudar uma vírgula”, diz Aurélio Miguel (PR). “Com um posição de independência, a gente sempre sofre na hora de ter os nossos projetos aprovados pelo Executivo”, completa. “Aqui na Câmara, eu sou o patinho feio deste governo. As votações são orquestradas e quem sofre e a população”, critica Amadeu.

A oposição petista já foi mais consistente. A conjuntura política (criação do PSD e possíveis alianças e a participação na Mesa da Casa) fizeram os ânimos se apaziguarem, principalmente no último ano. Metade da bancada petista, por exemplo, votou a favor do Itaquerão e outros têm “não votado” com bastante frequência. “Nossa relação tem sido saudável.

Estamos dialogando de forma cordial. Nossa oposição é construtiva”, diz Senival Moura (PT) – que votou a favor do Itaquerão.

Para o presidente da Câmara, José Police Neto (PSD), Kassab tem talento para articulação. “Ele já foi vereador e deputado, foi contemporâneo de muitos dos vereadores presentes na Casa. Ele sabe como conversar. E formou uma maioria por méritos próprios”, diz. Já o cientista político e consultor da ONG Voto Consciente, Humberto Dantas, considera a “maioria avassaladora de Kassab” resultado de centrão construído às custas de espaço na máquina, emendas e cargos”.

Fonte: Jornal da Tarde