Vereador tem mais o que fazer …

 

Por Milton jung

Texto publicado no Blog Adote São Paulo, da Revista Época SP

A Câmara de Vereadores de São Paulo dedicou o primeiro dia útil da semana para votar 71 projetos que concedem nomes a ruas, vielas, praças e pontes, além de medalhas e homensagens a cidadãos paulistanos. O vereador Arselino Tatto (PT) foi autor de quase a metade desses projetos, todos dedicados a seu reduto eleitoral, na zona sul da capital. Assim que levei a informação ao ar, no Jornal da CBN, comecei a receber mensagens de ouvintes-internautas criticando o trabalho dos parlamentares. Houve quem de forma irônica dissesse que é melhor deixá-los fazendo estas homenagens, pois enquanto gastam seu tempo com medidas de baixo impacto deixam de aprovar leis que possam causar danos ao município. O problema é que mesmo as concessões de títulos acabam se transformando em prejuízo para o bolso do paulistano, pois são promovidas solenidades oficiais com realização de coquetel, entrega de certificado, bandeja de prata e placas – tudo regado com dinheiro público.

É importante ressaltar que batizar locais públicos faz parte das funções do legislativo. E morar em uma rua com nome pode mudar muito a vida de um cidadão, facilitar o acesso de outras pessoas, entrega de encomendas e, inclusive, ajudar no momento de fazer crediário na loja ou no banco. Já ouvi muito morador contando com orgulho o fato de a casa dele estar agora em uma rua com nome e sobrenome. O resultado para o vereador é tal que tem assessores de gabinete destinados apenas à função de procurar ruas sem nome. O problema começa quando este passa a ser o papel principal do parlamentar, é muito pouco para o cargo que ocupam e o dinheiro que ganham. Estão lá para debater temas fundamentais para a cidade, encontrar soluções para problemas frequentes e apresentar projetos inteligentes e criativos que realmente impactem o ambiente urbano e, destaque-se, a aqueles que agem desta maneira.

Sou a favor da ideia de tirar esta função dos vereadores e deixá-la apenas com a prefeitura ou subprefeitura. Um levantamento organizado seria suficiente para identificar quais ruas (ou avenida, ou pontes, ou vielas, ou seja lá o que for) precisariam ser batizadas. Consulta-se o grupo de moradores ou um banco de nomes à disposição da sociedade (que podem ser sugeridos por qualquer cidadão – inclusive os vereadores) e por decreto determina-se como o local passará a ser conhecido. Pode deixar para consulta pública por um determinado momento e se não houver qualquer rejeição o problema está resolvido. Sem muita politicagem, aproveitamento eleitoral e custo baixo.

E aí o gaiato sentado ao meu lado comenta: se não tiverem o direito de batizar rua, o que os vereadores vão fazer da vida? Tenha certeza, que eles tem muito trabalho e um desafio enorme a enfrentar. Àqueles que não entenderam direito estas responsabilidades, cabe o eleitor tirá-los do parlamento no voto ou, ao menos, interferindo no mandato deles através do seu poder de fiscalização. Quem sabe aceitando convite que faço há quatro anos: adote um vereador.